Wednesday, September 03, 2008

o mundo é feito de mudança


Por que é que tanta gente à minha volta anda a sentir-se de pernas para o ar, desmotivada, entristecida, aflita, por causa da falta de dinheiro e perspectivas, porque não têm estabilidade aos 40, porque os dias se sucedem sem glória nem novidade, porque lhes faltam motivos para acordar ou seguir em frente, porque não sentem evolução?

A primeira coisa que me ocorre é que as pessoas se habituam muito rapidamente a um mapa, um projecto mental que construiram sobre si e que os desvios lhes causam sofrimento. Ainda não navegam por GPS, onde a simpática menina lhes corrige a "ruta" e apresenta alternativas.
Habituam-se a criar um modelo de vida que inclui evolução (leia-se sucesso económico, progressão na carreira), estabilidade (empregos de uma vida, reforma garantida, tecto próprio a prestações suaves), mas que também cria esterótipos de comportamento (não se pode andar de cavalo para burro; não se "descompra" uma casa para alugar outra num sítio mais económico; não se bate à porta de uma "instituição" a propôr projectos, espera-se por um contacto ou movem-se influências).

A segunda coisa que me ocorre é que as pessoas assentam a sua vida fundamentalmente sobre uma base material, económica. E quando ela falha ou se altera, sofrem.
Começam logo por ter hábitos de funcionamento e um padrão de consumo exigentes.
Ao ver outro dia um divertido filme italiano que se situava no pós-guerra de 45 (Le Ragazze di San Frediano) apercebi-me da distância que há entre a actual noção de "dificuldades" e a realmente existente nessa época: ali não havia o que comer, as pessoas inventavam e aceitavam todos os trabalhos, deslocavam-se de fato e gravata em bicicleta...
Provavelmente precisamos de muito menos do que temos.
E decididamente precisamos muito mais do que perdemos: tempo para pensar e estabelecer prioridades, tempo para os outros, tempo para apreciar.


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