Thursday, August 31, 2006

Quem não tem site não tem lugar

Nos dias que correm, a internet parece ser a solução para tudo: saber notícias, tirar dúvidas, fazer amigos, publicitar produtos, serviços e ideias.

Com uma aparência democrática (só na fachada, porque o acesso eficaz à informação neste meio exige ainda mais conhecimentos, cultura e capacidade de relacionamento de dados, o que dificilmente é igual para todos), acessível e económica (exige investimentos menores na produção e acesso), a net vai paulatinamente alterando o cenário social e económico.

Altera mesmo o cenário material para virtual.
Deixam de se ler jornais em papel (lá fechou o Independente!) para se consultarem as "gordas" online; desaparecem os catálogos luxuosos dos bancos de imagens para se receberem emails semanais com as últimas novidades; acabam as newsletters e aparecem as e-letters; abandona-se o telefone ou os recados em post-it e substituem-se por emails.
Tudo mais silencioso, mais individual, sem memória física, sem repetição garantida.
As coisas desaparecem sem deixar rasto, com um enter ou shutdown.
Enquanto estende a rede, a net vai arrasando ou alterando ofícios e empresas, hábitos, objectos, linguagem, sociabilidades. Somem os impressos de impostos e jornais e hão-de acabar os quiosques, as listas telefónicas, o economato em geral, os jogos da Majora...
Será que esta desmaterialização da cultura não tem consequências?

Ao desenvolvimento da tecnologia devia por outro lado corresponder uma evolução na qualidade dos conteúdos e na forma de os dar a ver. Mas não é isso a que assistimos.
O ensino das tecnologias raramente comporta reflexão, cultura e estruturação. A dita acessibilidade do sistema leva a que todos se assumam como webdesigners, escritores, tradutores ou fotógrafos (quando impresso as pessoas sempre se inibem de publicar qualquer coisa). E no geral temos um público consumidor muito pouco exigente.

Só nos resta uma solução, aos que nos queixamos: invadir um território que, de outro modo, nos deixará irremediavelmente isolados.

No comments: